segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Alongar ou não (antes da natação), eis a questão.



Uma cena comum é observada antes da prática de atividades físicas, exercícios físicos e competições, o alongamento. È senso comum a utilização de movimentos de alongar pré e pós o exercício, tendo o status de ser profilático e benéfico ao desempenho físico (Rubini, Costa et al. 2007). No entanto, pesquisas científicas sugerem que esse recurso pode ser prejudicial quando aplicado de forma aguda ao desempenho de valências físicas fundamentais ao rendimento atlético (Nelson, Guillory et al. 2001; Cramer, Housh et al. 2004; Shrier 2004; Hayes, Kindig et al. 2005; Marek, Cramer et al. 2005; Nelson, Driscoll et al. 2005; Rees, Murphy et al. 2007; Behm and Chaouachi 2011; Mikolajec, Waskiewicz et al. 2012) e que o mesmo não diminui o risco de lesões (Gleim and McHugh 1997; Farinatti 2000; Pope, HERBERT et al. 2000; Andersen 2005).
Qual a explicação para esta quebra de paradigma? Os exercícios de alongamen­to parecem produzir uma diminuição aguda na viscosidade das estruturas tendinosas (Kubo, Kanehisa et al. 2001), permi­tindo que as fibras musculares deslizem com menos eficiência para a realização do movimen­to. Ao mesmo tempo, exercícios de alongamento podem gerar um aumento da complacência mus­cular, que pode limitar a quantidade de pontes cruzadas, diminuindo a capacidade do músculo para produzir força (Wilson, Murphy et al. 1994) e, além disso, o alongamento parece promover uma menor ativação das fibras intrafusais, devido uma menor excitação dos α-motoneurônio (redução da sensitividade reflexa (Fowles, Sale et al. 2000). Deve ser destacado também, que durante o alongamento estático ocorre uma elevação da concentração intracelular de Ca++ e isso se relaciona com a redução na tensão máxima de contração (ARMSTRONG, DUAN et al. 1999; Nelson, Kokkonen et al. 2005). Então, todos os fenômenos supracitados podem ser ativados pelo alongamento muscular e contribuir de maneira direta sobre o sistema neuromuscular, comprometendo assim o desempenho do nado, principalmente, em provas que necessitem desta produção imediata de força.
Importante ressaltar dois tópicos importantes – qual método de alongamento utilizado? e o tipo de atividade na natação (competição, treino ou recreacional). Existe uma discussão semântico-fisiológica quanto à denominação do termo alongamento, o que não é foco desta resenha. Porém não podemos colocar todos os tipos e maneiras de alongar a musculatura no mesmo saco, pois são bem diferentes entre si e parece que os métodos que trabalham em intensidades de estiramento próximas do máximo ou no máximo de fato podem atrapalhar o desempenho e não ter qualquer efeito de segurança (muito pelo contrário), assim como é importante o tempo de execução.
Ao considerar os efeitos agudos do alongamento como prejudiciais ao desempenho físico, os presentes resultados se somam a literatura (Nelson, Guillory et al. 2001; Hayes, Kindig et al. 2005; Nelson, Driscoll et al. 2005; Behm and Kibele 2007; Rees, Murphy et al. 2007; Costa e Silva, Silveira et al. 2012; Mikolajec, Waskiewicz et al. 2012). O problema para abrir uma discussão aqui é que os estudos não são para a natação, ou seja, uma lacuna na literatura.
Nosso grupo do Laboratório de Fisiologia do Desempenho Humano (LDFH/UFRRJ) realizou um estudo que comparou alongamento estático ativo, facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e controle, encontrando piora no desempenho em provas de curta distância (50m) em atletas universitários (Costa e Silva, 2014).
Utilizar métodos que sejam intensos antes de competições é temerário e desnecessário antes de treinos, agora aquela alongada prévia e tradicional dos nadadores (quase uma perfumaria) não tem problema algum. De toda forma eu continuo indicando o aquecimento direto na piscina como a melhor forma de se iniciar um treino ou uma competição...agora qual método de aquecimento utilizar? (isso é outra resenha)
Costa e Silva, G., A. Silveira, et al. (2012). "Efeito agudo do alongamentocestático sobre a força muscularcisométrica." Conscientiae Saúde 11(2).
Dantas, E. H. M., R. Daoud, et al. (2011). "Flexibility: components, proprioceptive mechanisms and methods." Biomedical Human Kinetics 3: 39 – 43.
Torres, J. B., M. C. S. C. Conceição, et al. (2009). "Acute effects of static stretching on muscle strength." Biomedical Human Kinetics 1(-1): 52-55.

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